O Museu da Imagem e do Som foi criado em um momento em que o país passava por um amplo processo de crescimento e modernização e aspirava concretizar a sua promessa enquanto país do futuro.

O grupo de intelectuais e produtores culturais que se mobilizou em torno da consolidação do MIS, entre eles, Rudá de Andrade, Francisco Luíz de Almeida Salles, Paulo Emílio Salles Gomes, Luís Ernesto Machado Kawall, preocupados com as mudanças e o iminente desaparecimento de experiências culturais e artísticas significativas da vida rural e urbana paulista, embrenhou-se de forma sistemática na edificação de um acervo de imagens e sons que contemplasse estes conhecimentos diversos.

Embora estivessem envolvidos com a construção dessa memória, procuraram diferenciar o MIS dos museus tradicionais, afastando-o da imagem sacralizada de museu como um templo incomunicável de objetos únicos legatários de um tempo remoto e distante. Buscaram, pelo contrário, afirmar o MIS dentro de uma proposta museológica diferenciada baseada na reprodutibilidade de seu acervo, composto de filmes, vídeos, fotografias, depoimentos orais, músicas, partituras e cartazes. Além da singularidade dos seus suportes de memória, uma outra diferença em relação aos demais museus era, desde o início, o deslocamento do foco temporal para as experiências do presente e para as experimentações artísticas que sinalizavam um futuro ainda em gênese. A natureza de seu acervo e a opção pelo registro do contemporâneo contribuíram para que o MIS se tornasse popular entre estudantes, artistas e profissionais liberais como um museu dinâmico e “mágico”.

Foi no MIS que linguagens e movimentos hoje consagrados tiveram a sua primeira acolhida e impulso. Os primeiros vídeos experimentais de Bill Viola foram exibidos no MIS. O curta-metragem ganhou notoriedade e respeitabilidade a partir dos seus Festivais Internacionais idealizado pelo Setor de Cinema do Museu. No início da década de 70, o MIS, também foi precursor na exibição de filmes fora do circuito comercial, projetando realidades distantes do eixo hegemônico de poder, e abrindo caminho para o que viria a ser posteriormente a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A afirmação do vídeo enquanto uma linguagem artística que tem a sua própria gramática e que convoca e provoca uma sensibilidade própria no espectador, também tem o MIS como patrono. Foi no MIS que o Vídeo-Brasil se projetou e floresceu, dando origem a um acervo riquíssimo e único de vídeo-arte brasileira que remonta a década de 80 e chega até a atualidade. Estas intervenções no campo da produção e circulação de bens artísticos tiveram efeito multiplicador e fizeram com que o Museu fosse identificado como um espaço de intercâmbio informal entre produtores culturais, estudantes e interessados.

Alem desta sua vocação para a arte experimental, o MIS foi a primeira instituição museológica a ter como atividade permanente a prática de história oral, rompendo também na história com os cânones tradicionais de arquivos. Citada na própria carta de princípios e intenções do MIS de 1970, a produção constante de fontes orais sobre as várias linguagens a que o MIS se destina sofreu poucas intermitências ao longo dos anos e exibe em sua coleção artistas e personalidades como: Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Sergio Buarque de Holanda, Piolim, Arnaldo Jabor, Nelson Pereira dos Santos,Tom Jobim, Gilberto Gil, Camargo Guarnieri, Marlene e tantas outras figuras emblemáticas de nossa cultura. Além de registrar a experiência de celebridades, O MIS no inicio de suas atividades, teve forte inclinação antropológica e sociológica. O primeiro grande registro dentro desta perspectiva foi à pesquisa realizada sobre o Vale do Ribeira. A partir do voluntarismo da equipe técnica, uma documentação sonora, cinematográfica e fotográfica foi criada sobre manifestações folclóricas da região, aspectos da arquitetura, agricultura, comércio e artesanato local.

Dentro desta vertente antropológica, vários outros projetos foram feitos, entre eles, a documentação sobre arte rupestre no Piauí e sobre as transformações sofridas pela população no eixo RIO-SANTOS.

A versatilidade de programação e a heterogeneidade de sua coleção de documentos sempre foram traços marcantes da instituição. Sem perder o pluralismo que o define desde a sua fundação, o MIS, não sendo mais ele o único reduto das artes e da cultura a dialogar com o seu tempo e a produzir acervo no cenário paulista/paulistano, espera agora circunscrever com mais transparência a sua missão para a sociedade, para então melhor atendê-la. A idéia de reavivar e afirmar a vocação vanguardista do MIS parece neste momento a garantia de seu futuro e, ao mesmo tempo, o tributo ao seu passado como museu do futuro.